domingo, 30 de outubro de 2011

Ideias, concepções e teorias de aprendizagem

Quando analisamos a prática de qualquer professor, vemos que, por trás de suas ações, há sempre um conjunto de ideias que as orienta. Mesmo quando ele não tem consciência dessas ideias, dessas concepções, dessas teorias, elas estão presentes.

Apresento-lhes um resumo das teorias empirista e construtivista, para que o professor/mediador seja esclarecido de que suas práticas pedagógicas atendem a uma dessas teorias. Não estamos classificando como certa ou errada nenhuma delas, apenas chamando a uma reflexão: Que tipo de cidadãos queremos formar futuramente? A prática pedagógica exercitada favorece a formação de leitores críticos, participativos, capazes de interagir na sociedade que está inserido? Qual o conceito que temos do aprendente?



A teoria empirista - que historicamente é a que mais vem influenciando as representações sobre o que é ensinar; quem é o aluno, como ele aprende e o que e como se deve ensinar - se expressa em um modelo da aprendizagem conhecido como de " estímulo-resposta". Esse modelo define a aprendizagem como " a substituição de respostas erradas por respostas certas". A hipótese subjacente a essa concepção é a de que o aluno precisa memorizar e fixar informações - as mais simples e parciais possíveis e que devem ir se acumulando com o tempo. O modelo típico de cartilha está baseado nisso.
As cartilhas trabalham com uma concepção de língua escrita como transcrição da fala: elas supõem a escrita como espelho da língua que se fala. Seus "textos" são construídos com a função de tornar clara ( segundo o que elas supõem) essa relação de transcrição. Em geral, são palavras-chave e famílias silábicas, usadas exaustivamente - e aí encontram-se coisas como " o bebê baba na babá", " o boi bebe", "Didi dá o dado a Dedé". A função do material escrito numa cartilha é apenas ajudar o aluno a desentranhar a regra de geração do sistema alfabético: que b com a dá ba, e por aí afora.
Poderíamos dizer, em poucas palavras, que na concepção empirista o conhecimento está "fora" do sujeito e é internalizado através dos sentidos, ativados pela ação física e perceptual. O sujeito da aprendizagem seria "vazio" na sua origem, sendo " preenchido" pelas experiências que tem com o mundo. Criticando essa ideia de ensino que se "deposita" na mente do aluno, Paulo Freire usava uma metáfora - "eduacação bancária" - para falar de uma escola em que se pretende "sacar'' exatamente aquilo que se "depositou" na cabeça do aluno.


Na teoria de perspectiva construtivista, o conhecimento não é concebido como uma cópia do real, incorporado diretamente pelo sujeito: pressupõe uma atividade, por parte de quem aprende, que organiza e integra os novos conhecimentos aos já existentes. Isso vale tanto para o aluno quanto para o professor em processo de transformação.
Para os construtivistas - diferentemente dos empiristas, para quem a informação deveria ser oferecida da forma mais simples possível, uma de cada vez, para não confundir aquele que aprende - o aprendiz é um sujeito, protagonista do seu próprio processo de aprendizagem, alguém que vai produzir a transformação que converte informação em conhecimento próprio. Essa construção, pelo aprendiz, não se dá por si mesma e no vazio, mas a partir de situações nas quais ele possa agir sobre o que é objeto de seu conhecimento, pensar sobre ele, recebendo ajuda, sendo desafiado a refletir; interagindo com outras pessoas.
Quando se acredita que o motor da aprendizagem é o esforço do sujeito para dar sentido à informação que está disponível, tem-se uma situação bastante diferente daquela em que o aprendiz teria de permanecer tranquilo e com os sentidos abertos para introjetar a informação que lhe é oferecida, da maneira como é oferecida. Num modelo empirista a informação é introjetada, ou não. Num modelo construtivista, o aprendiz tem de transformar a informação para poder assimilá-la. Concepções tão diferentes dão origem, necessariamente, a práticas pedagógicas muito diferentes.

(Texto extraído da coletânia do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores - PROFA)

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